Futebol de formação - Vencer nem sempre é o mais importante
A vitória associada apenas ao desporto de alto rendimento, começa a ser um ideia ultrapassada e, de certa forma, a cultura do “jogar para ganhar”, começa a ganhar contornos reais na sociedade pois, mesmo na formação, há crianças com dificuldades que vêem no desporto uma oportunidade de mudar a vida e a ideia de ganhar está sempre, na cabeça deles, associada ao sucesso na formação. Esta ideia apesar de parcialmente correcta, não o é por inteiro pois, em futebol de formação o importante é formar com qualidade e, claro que a ganhar está quase sempre associado à ideia de realização de uma boa formação.
O treinador de uma equipa jovem, em primeiro lugar deve ter como grande preocupação a formação global dos atletas, assumindo-se como um líder coordenador das actividades e, promovendo o gosto pela modalidade aos atletas, bem como a inserção dos mesmos no mundo actual, abrindo-lhes os horizontes além do desporto mas, proporcionando todas as possibilidades de crescer com o desporto e não para o desporto. Desta forma, Kunz defende: “O fenómeno social do desporto, para ser transformado numa actividade de interesse real a todos os participantes, deve ser compreendido numa visão polissémica, com a visualização de componentes sociais que influenciam as acções sociais e culturais no âmbito desportivo e questionar o verdadeiro sentido do desporto a partir de uma visão crítica”. Esta visão crítica que é defendida por Kunz é importante ser estimulada aquando do crescimento dos jovens para promover desde cedo o desporto como meio de evolução e não como meio de promover um nome ou uma identidade.
É fundamental que os técnicos dêem atenção à interpretação que os atletas fazem do mundo em que vivem, a percepção da representatividade social do jogador e a compreensão acerca do futebol como fenómeno social. Esta observação do futebol, não retira a importância da competição inerente a qualquer desporto mas, como qualquer manifestação social precisa de ser entendida como um fenómeno cheio de particularidades.
O treinador deve, como modelo que é paraos atletas, aproveitar a vontade com queestes vivem o treino para dar lhes condições necessárias para evoluir na modalidade nos diversos componentes do rendimento e, em complemento, para evoluírem enquant o cidadãos do mundo e seres sociais.
É importante, quando se treinam equipas jovens e a começar a ter os primeiros contactos com a modalidade, estimular o seu gosto pelo Futebol, deixá-los ser independentes em certas situações, optando pela melhor “saída” pela sua própria cabeça, dar os feedback mais apropriados para a ocasião e promover sempre uma atitude didáctica e positiva, quer no contexto desportivo, quer a nível mais social. O treinador, deve mesmo, de certa forma, ser o melhor amigo dos jogadores com quem lida diariamente, sendo um conselheiro e ao mesmo tempo a voz de comando para as suas acções. Por outro lado o técnico deve compreender que tem um papel crucial no futuro das crianças com quem lida, podendo intervir positiva ou negativamente no seu desenvolvimento, para isso um treinador, mais que um professor, deve ser uma mistura entre amigo, conselheiro e orientador.
Ao longo do tempo o desportofoi ganhando um relevo social enormeem todo o mundo. Este ganho de relevância fez-se sentir em vários âmbitos da prática desportiva, principalmente na valorização do desporto rendimento, mas é importante conceber que não há rendimento sem especialização. As sociedades tecnológicas e industriais são hoje emdia muito bem organizadas e especializadas. A necessidade de especialização nestas mesmas sociedades e na vida do homem têm conduzido a uma precocidade de especialização.
Pedagogos e concepções pedagogistas têm mostrado uma preocupação com a promoção precoce dos jovens talentos, dizendo que esta especialização precoce não protege o jovem, antes pelo contrário. Esta especialização precoce surgiu devido à valorização política e social do desporto de alto rendimento, que procurou encontrar mais cedo jovens com talento para a alta competição.
A preparação dos jovens tem de ser feita em modelos devidamente adequados aos seus processos de maturação com o acompanhamento de treinadores devidamente formados. A preparação de base é cada vez mais precoce o que obriga a criança a cumprir processos completamente desajustados ao seu período de maturação.
A palavra “formação” é considerada, nos dias de hoje, como pressuposto a garantir em qualquer actividade implícita à actividade humana. Esta preocupação basea-se sobretudo na perspectiva futurista e de preocupação com o amanhã que vigora na sociedade.
Hoje em dia uma equipa de futebol, ou mesmo uma empresa, não pode pensar apenas no presente, no actual. As conjecturas e as realidades mudam e a preparação para a realidade e estruturar a base e formar com qualidade são garantias de futuro. É necessário portanto, olhar o presente com vista ao futuro. “Só desta forma, através de uma formação bem conduzida, orientada e contextualizada se proprcionará a evolução do jogador no sentido que se pretende que ele exista” (Oliveira,2006).
A formação do jovem jogador é importante mas, por outro lado, é necessário que haja uma multilateralidade no que diz respeito a essa formação. O jogadorjovem de futebol deve ter noção que o futebol não é tudo e que os valores e princípios morais, éticos e pedagógicos são igualmente importantes e contribuem para a sua formação geral enquanto pessoa, trabalho que está sempre associado a um treinador de jovens.
Nos dias que correm a especialização do jovem jogador de futebol dá-se cada vez em idades mais baixas, o que tem um carácter positivo e outro negativo. O jovem sente que ao especializar-se desde cedo, vai tirar o máximo de partido da sua performance e, com isto ajudar a equipa a vencer jogos e campeonatos, mas há um pormenor que escapa invariavelmente aos treinadores de formação: Formar deve vir antes de vencer no dicionário do futebol e não o contrário. O jogador, enquanto jovem, deve experimentar diversas emoções, deve rodar várias posições (nem todos serão profissionais) e devem sobretudo apender de forma lúdica e que estimule a sua vontade em praticar desporto, mais concretamente promover a paixão pelo futebol.